Sunday, January 08, 2006

Manifesto «Por uma Casa de Garrett»


Talvez haja quem tenha descoberto a casa da Rua Saraiva de Carvalho, em Lisboa, onde Garrett morou no final da vida, quando se começou a falar da sua provável demolição. Talvez haja mesmo quem tenha, desse modo e nesse momento, descoberto a casa antes de descobrir o próprio Garrett. E haverá também quem clame, com ardores no peito, contra a demolição, embora se guarde de voltar a ler, admitindo que alguma vez leu, a poesia, o teatro, os romances, ou mesmo os discursos de Garrett. Para esses, o campo de acção é, por excelência, o abaixo-assinado e o protesto.

A conservação de locais de referência da geografia pessoal de um escritor, artista, ou outra personalidade, não faz parte da nossa tradição, mais disponível para o silêncio e o esquecimento. E não faz parte da nossa tradição porque é inexistente, ou difícil, a nossa relação com os Autores e sobretudo com a Cultura que eles representam.

Tão longe que estamos ainda da Europa da cultura! Não porque não saibamos o que lá se faz e o que por lá se passa. Estamos longe porque não vivemos a cultura do mesmo modo, de uma forma interiorizada, na qual certos actos aparecem de uma forma simultaneamente imperativa e natural. Não que por essa Europa tudo esteja bem, ou seja igualmente bom. A questão não é essa. A questão é estarmos num patamar diferente.

Não basta rasgar as vestes de indignação. Aliás, depois das vestes rasgadas, a nudez deixa ver a falta de ideias, e sobretudo a falta de iniciativa dos cidadãos. Por exemplo: Cesário Verde não merecia que existisse, em Lisboa, um lugar de sua evocação? Pois bem, a casa onde o Poeta morreu existe. Alguém se lembrou? Alguém vela pela sua manutenção? Alguém sabe ao certo? Alguém rasgou as vestes para que ali se fizesse alguma coisa?

Há mais de um ano que Cristina Futscher Pereira, auxiliada por um pequeno núcleo de pessoas, unido por comum garrettismo e motivado pelo achado dos manuscritos de uma parte inédita do Romanceiro de Garrett, fez surgir um blog (http://www.odivino.blogs.sapo.pt/) dedicado a Garrett.

Essa página fez o seu caminho próprio, juntando textos e iconografia garrettiana. A certa altura, quando se começou a gerar polémica sobre a casa de Garrett, surgiu a ideia de ampliar a existência do blog, construindo uma Casa de Garrett virtual, dedicada ao escritor.

Essa Casa seria, desde logo, uma reconstrução virtual, a três dimensões, da casa da Rua Saraiva de Carvalho, que assim ficaria preservada para memória futura. A tecnologia que existe hoje permite fazê-lo e há diversos exemplos disso. Na casa seria possível reunir obras de Garrett, disponibilizadas on line, textos, ensaios, iconografia, bibliografia, links. Seria uma casa em que se poderia entrar, e visitar, a partir da nossa própria. Abrir-se-ia a partir das escolas, das bibliotecas, das universidades. Iria ser, pensámos nós, uma grande Casa.

As primeiras tentativas de interessar pessoas e de obter patrocínios revelaram-se frustrantes. Garrett? Bah, quem é que se interessa por isso?

Depois de um período em que circunstâncias de natureza trágica não permitiram prosseguir a ideia, é essa pergunta que lançamos a quem este «manifesto» chegar.

Ainda é possível reconstruir virtualmente a Casa de Garrett e transformá-la num organismo cultural vivo. Precisamos de gente que esteja disposta a colaborar graciosamente neste projecto.

Mereceremos nós uma personagem como Garrett? É esta a interpelação que fazemos aos cidadãos que nos lerem. Seremos nós capazes de estar à altura das circunstâncias?

Precisamos de gente e de competências: designers, webdesigners, fotógrafos, engenheiros, arquitectos e estudantes de arquitectura, professores, escritores, pessoas de boa vontade... Conseguiremos reunir pessoas e conjugar esforços para apresentar obra?

O Estado pode bem ter as suas razões para descartar certos investimentos e certas responsabilidades. Mas que razões apresentaremos nós para fazer o mesmo?
Vera Futscher Pereira
Jorge Colaço
Fale connosco já: casadegarrett@hotmail.com

3 Comments:

Blogger JC said...

Não há qualquer relação com esse ou outro grupo.
O nosso objectivo não é impedir a demolição da casa.
È construir uma «casa virtual».
Somos i-n-d-e-p-e-n-d-e-n-t-e-s. Mas pedimos e aceitamos a colaboração individual de todos os que puderem e quiserem ajudar.
JC

4:46 PM  
Blogger aloeVera said...

acho completamente absurdo demolirem aquela que era a casa de um dos mais conceituados escritores portugueses. vcs tiveram uma bela iniciativa e espero que a consigam realizar, ja que, infelizmente nunca vi de perto a famosa casa. um bem haja p vcs!

7:47 PM  
Blogger violet said...

projecto louvável
apoiado!

8:54 AM  

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