Saturday, February 04, 2006

A cidade e as casas.

As cidades renovam-se, claro, e por vezes esse processo é doloroso, ainda que necessário. As cidades reconstroem-se e até se refazem. Muita vezes esse processo constitui uma regeneração indispensável do tecido urbano. Mas as cidades são também a sua história, e a memória dela que vive nas casas, nas ruas, nas praças.
A renovação, mesmo a que é imediatamente benéfica, não deve deliberadamente apagar a história da cidade.
Lisboa tem bons exemplos de recuperação, de reconstrução, de reabilitação. Uma cidade antiga, que atravessou os tempos, não deve perder os sinais dessa travessia. Eles são o seu rosto e são parte da sua alma. São eles também que nos contam quotidianamente a história da cidade. Neles se inscreve também a nossa própria história.
Há prédios que dão carácter à cidade. Que são o seu carácter. A sua perda afecta o carácter da cidade. A sua perda deliberada afecta a preservação da memória colectiva. Se isso não surge, para muitas pessoas, como uma coisa importante, essencial mesmo, é apenas mais um motivo de preocupação.
As casas ligadas à vida das grandes figuras, nomeadamente de escritores e artistas, deveriam constituir um património indispensável ao itinerário cultural da cidade, e um factor extraordinário de reconhecimento e de conhecimento. A pertinência desta valorização aumenta consideravelmente se esse património arquitectónico estiver entre aquele que contribui para dar carácter à cidade e para a preservação da sua memória urbana.
O projecto Casa de Garrett propõe-se, à sua escala e no seu âmbito muito específico, contribuir para a preservação da história e da memória colectiva da cidade de Lisboa na sua relação com a vida, a obra e o tempo daquele escritor.

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