Os últimos dias de Garrett (5)
Disse eu mais às ditas senhoras que, daquele dia em diante, não tornara a afastar-me do doente, senão à uma e duas horas da noite, para voltar de manhã cedo; mas que havendo alguém, cuja amizade ou parentesco lhe dava mais direito a estes cuidados, houvessem de tomar alguma providência que me aliviasse. Tudo foi em vão; ninguém queria o trabalho nem a responsabilidade. Parece incrível! Uma das pessoas que por amor da herdeira de Garrett maior zelo devia ter pelos seus haveres, quando reclamei a sua presença, ou a de alguém de sua confiança, respondeu-me que não queria rabos de palha! Não comento as expressões; mas confesso que me indignaram profundamente.
Foi por isso que eu me decidi a não temer os tais rabos de palha. Não era justo que morresse desamparado um homem que tanto honrara o país e o século que o viram nascer; mas, força é dizê-lo, por bem pouco deixou de repetir-se um facto horrível. Eram outras, inteiramente outras as circunstâncias; porém, não faltava muito para que a morte de Garrett fosse igual à de Camões. Graças a Deus, que tal não sucedeu. Semelhante opróbrio basta que se veja uma vez em mil anos, para deixar uma eterna mancha na face da nação que o consentiu. (continua)
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