Os últimos dias de Garrett (6)
Declaro porém, antes de passar adiante, que não estou bem convencido ou não compreendo bem o desapego e indiferença que parecia haver para o poeta, nas escusas dadas pelos que não deviam escusar-se; antes me parece que ele fôra sempre objecto de vivas afeições; mas, se me engano, é porque então a sua glória, lisonjeando certas vaidades, lhe acurvara corações menos acessíveis ao amor e à amizade. Como quer que fosse, não posso pôr de acordo as provas de interesse manifestadas por um lado, e o escrúpulo exagerado que mostraram de tomar a iniciativa numa casa que, mais do que eu, deviam zelar.
Era bem azado o momento, na verdade, para tão ridículas preocupações! Que temiam? Que vinham a ser os tais rabos de palha? Arreceavam-se de que os acusassem de algum furto? Diga-se a verdade, era a isto que aludiam os que se dispensaram de aturar o pobre moribundo, de quem não se esperava já nenhum agradecimento, porque todos sabiam que ele só saíria dali para o cemitério. Mas de duas uma: ou não confiavam assaz na sua probidade, para que ela os colocasse acima de toda a suspeita, ou o egoísmo era mais forte neles do que o afecto e consideração que deviam ao poeta. Escolham. (continua)
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