Friday, July 14, 2006

A Língua e a História: o mundo não começou hoje

«Nos dois modelos [de ensino, francês e alemão], apesar de antitéticos à partida, assistimos à diminuição do papel da história, não como disciplina ensinada, mas como quadro do conhecimento e da experiência. Quer se oriente o ensino para a adaptação às regras da mudança, quer se trate de dominar pelo conhecimento de uma «base» indispensável de saberes, quer se oriente para a liberdade da expressão de si, minimiza-se o facto de as situações presentes dos indivíduos não serem dadas, mas serem sim o resultado de processos sociais complexos que se inscrevem no tempo [na durée]. Ora, a liberdade dos sujeitos assenta sem dúvida, em primeiro lugar, sobre a sua capacidade de compreender essa história. Marginalizando as tradições – que tendem a estar presentes como «factos» de civilização, sobre os quais cada um é livre de se interessar ou não –, faz-se depender os indivíduos do estado do presente. Não que as tradições, claro, pudessem conter por antecipação as respostas às questões do presente, como os nostálgicos de um ensino tradicional põem a questão. Fica por definir, tanto num modelo como noutro, um tipo de relação com as tradições que prepare a compreensão da história e, sobretudo, que permita antecipar os futuros possíveis e desejáveis.
Isso passa pela definição de uma ideia de língua que dê aos alunos, não os meios de se adaptarem, mas de compreenderem as razões do seu presente e de inventarem as formas do futuro. Na verdade, é a língua materna, pela consciência da natureza histórica que dela podemos adquirir, pelo conhecimento dos recursos semânticos que ela oferece nos seus estádios anteriores, nos textos importantes que ela veiculou, que fornece, sem dúvida, o meio mais seguro de apreender o presente com distanciação e de formular hipóteses e aspirações em relação ao que ainda não existe. Uma concepção puramente instrumental da língua, centrada num presente imediato, tal como ela tende a impor-se nos sistemas de ensino, não pode abrir a uma compreensão das tensões existentes no interior das nossas sociedades, uma vez que essas tensões são ao mesmo tempo o produto da história, por vezes longínqua, dos indivíduos e dos grupos e exprimem aspirações ao reconhecimento e a um outro futuro.»

Pierre Judet de La Combe e Heinz Wizmann, «Grammaire et Histoire. La question politique da la langue», em Universalia 2006.

P. Judet de La Combe e H. Wizmann são autores de L’Avenir des Langues. Repenser les Humanités (Éditions du Cerf, 2004)

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