Casas onde, em Lisboa... (8)
Em meados de Junho de 1836, depois da sua exoneração de Ministro de Portugal na Bélgica, chegou de Londres e foi residir na rua do Arco do Bandeira, n.º 15.
Uma carta de Garrett, dirigida ao seu amigo José Gomes Monteiro, reproduzida, a pág. 200 do vol. 2.º das Memorias de Gomes de Amorim, datada de 17 de Junho, foi escrita desta casa.
«Pouco antes do outono de 36, escreve o mesmo biógrafo, mudava o nosso autor a sua residência da rua do Arco do Bandeira para a casa do pátio do Pimenta, que fica à esquerda, entrando, com um jardinzinho do lado de oeste, e tem o n.º 13-A».
Nesta casa (curiosa coincidência) habitou, mais tarde, a Viscondessa da Luz, uma das inspiradoras, senão a única, das belas poesias da sua colectânea Folhas Caídas.
António Nunes dos Reis, amigo e procurador do poeta, entre os diversos esclarecimentos que, sobre Garrett, forneceu a Gomes de Amorim, informou o seguinte a respeito desta habitação: «Casa pequena, mas bonita, contornada com arbustos e flores, tendo uma linda vista sobre o Tejo... Lá estava... senhora interessante, que muito amava Garrett, e ele não menos estremecia por ela».
Esta formosa senhora era D. Adelaide Pastor, filha do negociante João António Lopes Pastor e de D. Jerónima Deville. Apesar de não serem casados, o que não era possível visto que o poeta estava separado amigavelmente de sua legítima esposa, D. Luísa Cândida Midosi, ali os visitavam os pais e a irmã de D. Adelaide.
Ouçamos o biógrafo: «Adelaide fazia as honras (da casa), quando havia visitas: e a todos encantava com a sua graça amável e maneiras insinuantes. Dotada de singular inteligência, cultivava-a com muito tacto e gosto. E reunia aos dotes adquiridos pelo estudo, e às boas qualidades, as virtudes que mais encantam os homens. Garrett amou-a com esse firme, sereno e leal afecto que nasce da estima que nos inspiram os bons sentimentos e o carácter da pessoa amada, amor, que todos os dias se fortifica -- em vez de enfraquecer-se com o tempo, como acontece às paixões exclusivamente filhas do entusiasmo. Essa afeição pura, ia quase dizendo casta e religiosa, sobreviveu ao objecto amado, tendo sido consagrada pelo nascimento de dois filhos e de uma filha idolatrada, única que ainda hoje vive».
Foi nesta casa que nasceu o primeiro daqueles filhos, Nuno, a 25 de Novembro de 1837, e nela veio a falecer a 9 de Fevereiro de 1839.
Dias depois deste infausto acontecimento foi, segundo informa o biógrafo, passar alguns dias a casa do seu amigo José Augusto Correia Leal, oficial da secretaria das Cortes, na rua do Ouro, à esquina do segundo quarteirão, em número que ele ignorava. Para ali foi, com a mãe, procurar esquecer aquele grande desgosto.
Esta casa do pátio do Pimenta tinha um jardinzinho, onde Garrett tratava, com desvelo, das suas flores, muitas das quais lhe seriam fornecidas, do Porto, pelo seu amigo Gomes Monteiro, a quem, em carta, de 8 de Junho de 1837, as solicitava. (continua)
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