Os últimos dias de Garrett (10)
Devia ser um espectáculo admirável e patético o ver aquele bom velho provecto na idade, na virtude, e na fé, cobrindo com os seus cabelos, brancos de neve, e lavando com as suas lágrimas de admiração e de perdão, o arrependimento daquele pecador ilustre, tão acusado, tão culpado talvez, mas o mais caluniado homem desta terra! -- O padre, o grande e verdadeiro padre da igreja de Jesus Cristo, o padre que dando o exemplo da virtude perdoa, absolve, e abençoa os que se arrependem, o padre que acabava de confessar João Baptista d'Almeida Garrett, saía, no fim de uma hora, sufocado, soluçando, com o rosto alagado de pranto, as mãos postas, e podendo dizer-me apenas de passagem, cheio de pasmo, de unção religiosa, e de sagrado entusiasmo: «Que grande homem! que alma! que exemplo admirável!»
Eu e Gonçalves, que também tinha chegado, olhámos um para o outro. A ambos nos corriam as lágrimas em fio...
Gomes de Amorim
[Fim do excerto publicado no Archivo Pittoresco]
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