Friday, September 01, 2006

Casas onde, em Lisboa (14)

No ano de 1854, para ficar mais próximo da sua filha, que, então, era educanda do Convento das Salésias, foi morar para a rua da Junqueira, n.os 1 a 7, numa casa, construída no antigo Forte da Estrela, de que era proprietário o Marquês de Angeja.
Escreve o seu biógrafo: «Num domingo do mês de Junho de 1854, tendo já alugado os baixos da casa do Marquês de Angeja, para ir passar ao pé da filha o resto do verão…»
E, mais adiante, dá informações mais minuciosas acerca desta residência: «Seguindo a estrela do seu último rumo, e no intuito de ficar mais perto da filha, tomou o rés-do-chão da casa do marquês de Angeja, no princípio da rua Direita da Junqueira, à esquerda, indo para Belém. É a que tem na parede o letreiro da citada rua e à esquerda uma peça de artilharia de ferro, cravada no chão com a culatra voltada para cima. A porta de entrada, para um pequeno largo ou recanto, mostra o n.º 1».
Nesta casa o visitavam, amiúde, Gomes de Amorim, os seus vizinhos Pintos, a família de D. Pedro Moscoso, que morava no primeiro andar, e certas senhoras suas vizinhas, influentes na escolha daquele sítio, segundo as informações do seu minucioso biógrafo.
Ali compôs a comédia intitulada O Conde Novion, a pedido deste, para acompanhar a representação do seu drama Ódio de raça.
«Ali se instalou em Junho, cedendo dois ou três quartos, à entrada, a uns parentes do visconde da Luz, casados de pouco tempo. Lembro-me que o marido tinha o apelido de Pinto; era militar e de muito agradável trato Os aposentos de Garrett continuavam para o lado da Junqueira. Eu tinha ali um quarto, com janela sobre o páteo arborizado, que deita para a travessa».
Foi ainda no princípio deste ano, em 5 de Janeiro, que alugou a casa da rua de Santa Isabel, n.º 56, que depois mudou para o n.º 78, em que foi o primeiro inquilino. Era seu proprietário Francisco José de Araújo Barros.
Em Fevereiro, como informa Gomes de Amorim, já lá andava o armador Gaspar, e antes do fim de Junho, para ela se fez a mudança dos móveis da casa da rua do Salitre, a que assistiu o poeta.
Arrumada a livraria, houve ali um almoço de inauguração a que assistiram, além de Gomes de Amorim, os escritores Mendes Leal, Rebelo da Silva e Felner.
Foi com esta casa, supondo que, talvez, seria aquela onde, por mais tempo, se fixaria até à sua última morada, que o poeta teve maiores preocupações.
Sucedem-se as cartas, com minuciosas instruções, para o dedicado Manuel José Gonçalves, escrivão do Depósito Público, acerca da reparação dos móveis, da sua arrumação; colocação de cortinas, de passadeiras, de papéis, de candeeiros; pinturas diversas, etc.
Ele e Gomes de Amorim, com a colaboração de Militão José Ferreira, armador que veio substituir o negligente Gaspar, arrumaram a casa e os móveis; arranjaram o jardim, onde foram plantadas várias espécies botânicas; fizeram acender os fogões para que as tintas secassem; contrataram criados; mandaram polir as carruagens, etc. Em suma, empregaram a sua actividade a fim de que o poeta viesse tomar posse da casa, com tudo disposto nos seus lugares.
Este, tendo adoecido na Junqueira, foi, assim mal disposto e achacado que, em 30 de Outubro de 1854, entrou na sua nova casa, onde exalaria o seu último alento. (continua)

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