Tuesday, September 19, 2006

Casas onde, em Lisboa... (15)

Gomes de Amorim, em largas páginas das Memorias de Garrett, descreve, pormenorizadamente, esta última residência de Garrett.
Apenas resumiremos um pouco o que lá vem.
No rés-do-chão ficava a porta principal, que dava para um pequeno vestíbulo, tendo de cada lado uma janela de grades e um portão. O portão da esquerda era o da cavalariça e o da direita correspondia a uma rampa que levava aos pátios, jardim e quintal.
O andar nobre tinha cinco janelas de frente: duas da biblioteca, duas da sala e uma da saleta.
Nesse mesmo andar ficavam o quarto de cama, com a respectiva retrete; o quarto destinado à filha; a casa de jantar, com a sua copa e a cozinha. Nas águas-furtadas havia ainda dois quartos, um, provisoriamente reservado para sua filha e outro para a criada.
As diferentes divisões estavam guarnecidas por móveis artísticos e de bom gosto.
Assim, na biblioteca patenteavam-se as duas magníficas estantes de pau santo e jacarandá, que lhe haviam sido oferecidas pelo Duque de Palmela; outras duas estantes, mais modestas, que estão na Biblioteca Pública de Angra; um bufete, presente do ministro do Brasil, em Lisboa, Vasconcelos Drummond e a célebre cadeira abacial, que fôra de seu tio D. Fr. Alexandre da Sagrada Família, que, presentemente, pertence ao Museu do Conservatório Nacional de Música.
No quarto de cama havia, entre outros móveis, uma magnífica cama de pau santo, em estilo sebastianista; na sala viam-se mesas de embutidos, bufetes, banquinhas, cadeiras, colunas torneadas, etc., e na casa do jantar estava colocada uma mesa elástica de um só pé, dois móveis hamburgueses e doze cadeiras cobertas de marroquim.
«Como casa particular, foi a sua apesar de pequena, escreve Gomes de Amorim, a primeira que em Lisboa se conheceu ornada quase toda de móveis antigos restaurados. Havia-as muito mais ricas, de pessoas opulentas; nenhuma de mais harmonia no conjunto artístico».
Foi nesta casa que, pelas seis horas e vinte e cinco minutos da tarde de sábado, nove de Dezembro de mil oitocentos e cinquenta e quatro, se finou o Divino, como a Almeida Garrett chamavam, em Coimbra, os seus condiscípulos.
Gomes de Amorim aventou a ideia de se conservar, intacta, esta casa, constituindo-se, assim, um Museu Garrett.
Na revista Atlântida, de 1916, referiu-se, também, o ilustre escritor João Grave à sua adaptação a museu. (continua)

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