Monday, January 30, 2006

Lugares virtuais.

Um relance sobre várias cidades virtuais.

Cidades virtuais

Um certo modo de visitar Roma antiga.

Casas de escritores (12)

Charles Dickens também só viveu nesta casa durante dois anos. Mas era a sua única residência em Londres que sobrevivia...

Casas de escritores (11)

Mais uma abordagem online de uma casa-museu de um poeta.

Thursday, January 26, 2006

A Ca(u)sa de Garrett.


EXERCÍCIO DE PASSAMENTO
um texto de Guilherme d’Oliveira Martins

I. José-Augusto França acaba de publicar uma obra que merece atenção. Falo de Exercícios de Passamento (Acontecimento, 2005). "Toda a gente morre de paragem do coração, mas uns morrem mais do que outros, não tanto porque da lei da morte se libertem os mais célebres, mas porque têm modos diferentes de passamento, sempre individualizados e conforme viveram, fizeram, sofreram e amaram, e também consoante a causa mortis, natural ou acidental, involuntária ou mesmo voluntária". Os cinquenta exercícios de passamento, longe de ser depressivos, constituem oportunidade para reflectir sobre a vida. Diz-me como morreste, dir-te-ei quem foste. Eis a moral destes textos. São exercícios em que a imaginação e a realidade se encontram e que permitem perceber cada um dos retratados. Vinte cinco poetas e escritores, dez artistas, sete reis (um dos quais, D. Pedro IV, faz capa, ao lado de D. Maria de Glória e do futuro Duque de Saldanha, também apanhados na teia da obra…) e oito políticos ou afins, eis o que encontramos. E à hora da morte como que há uma rápida revisão da vida. São, assim, cinquenta apontamentos de referência biográfica, de poder e de desgraça, de glória e de ilusão. Garrett despede-se triste da casa desejada. D. Pedro V pergunta: "quem havia de querer um César liberal para este povo adormecido, cego, obstinado nos erros que vinham de tão longe?". Herculano preocupa-se com uns quantos mil pés de vinha em Vale de Lobos. D. Fernando II fala de um divertido "pequeno Portugal". Césario pede que o deixem dormir. Fontes quase se imagina Santo António de altar. Soares dos Reis, Camilo e Antero são sacrificados na Ara do talento. António Nobre volta em sonho à Torre de Anto, onde "nem uma semana lá morara". Eça vê as tílias do jardim, que as "janelas abertas de Agosto" deixam mostrar. Mousinho de Albuquerque diz que as luvas já não lhe fazem falta. Rafael Bordalo Pinheiro, "acanichado", pede "lume a outro ele". Ramalho não se verga "à estupidez cava dos seus patrícios". Mário de Sá Carneiro "não ia mais escrever ao Fernando, nem a ninguém". Amadeo revolta-se: "a gripe espanhola, dois tios mortos já, e três primos – mas porquê ele?". Sidónio não tem tempo de pedir senão que salvem a pátria. Gomes Leal, em delírio, diz: "Agora quero ir-me embora". O pensamento de Junqueiro dilui-se paradoxalmente no Além desejado. Columbano pede para "irem ver-lhe as pinturas no Parlamento como acto cívico necessário", mas impossível por causa da ditadura. Pessoa pede "não mais luz, não um palito, mas entre uma coisa e outra, os óculos…" Teixeira Gomes já pode receber as amigas que inventara, Sabina Freire ou Maria Adelaide, no lindo cemitério de Bougie. Pascoaes morre "poeta de sempre". Almada louva a "luz, a luz tal e qual". Salazar suspira e pensa em Santa Comba. Jorge de Sena usa a sua lucidez até ao último momento. E o autor acrescenta ainda um ignoto, cheio de ironia, em nome da intemporalidade e do riso.

II. Garrett morreu saudoso da casa que escolheu para morrer. Recorda-o José Augusto França, disse-o Francisco Gomes de Amorim numa obra essencial (Garrett – Memórias Biographicas, Imprensa Nacional, 1881 a 1884). Lembramo-lo nós, no momento muito triste da demolição da última casa do autor de "Viagens na Minha Terra". Ao ler Amorim e J.-A. França, percebe-se ainda melhor como houve indiferença e insensibilidade em relação à memória de um dos nossos maiores. Mais do que dinheiro, o que faltou foi inteligência para encontrar uma solução digna. E se seguirmos o percurso de Garrett na biografia, notamos a cada passo a grande sensibilidade que teve relativamente à memória dos nossos maiores e às nossas raízes. Agora houve ingratidão. E quanto enlevo encontramos no testemunho do amigo dilecto de Garrett sobre a instalação na Rua de Santa Isabel… No final de 1853, Garrett encontrou uma casa que estava a ser construída, a Campo de Ourique. Era uma moradia elegante, com um pequeno jardim, em frente do cemitério inglês. Um lugar romântico por excelência.

O poeta gostou muito, foi amor à primeira vista. Arrendou-a. E enquanto aguardava pelos acabamentos, que seguiu com grande cuidado, transferiu para lá os seus móveis da Rua do Salitre e foi morar provisoriamente, em Junho de 1854, para a Rua Direita da Junqueira, na casa do Marquês de Angeja. A sua filha Maria Adelaide estava então no Recolhimento das Salésias. E o escritor escreveu-lhe sobre a nova casa de Santa Isabel: "Quando a arranjar cuidarei também do teu quartinho que será o melhor da casa, o próprio para uma senhora como tu hás-de sair daí". Foi o próprio Garrett que dirigiu a mudança dos móveis do Salitre para Santa Isabel. Gomes de Amorim acompanhou-o. Dormiram nas águas furtadas, mas o calor excessivo levou-os a regressarem à Junqueira. Quando se instalou a biblioteca da nova casa, Garrett ficou tão entusiasmado que ofereceu um almoço, frugal mas luzido, aos seus amigos mais íntimos – Mendes Leal, Rebelo da Silva, Rodrigo Felner e Amorim. A refeição terminou por volta do meio-dia, e Garrett, em frente da Igreja de Santa Isabel, disse a Mendes Leal: "Isto abriu-se, mas não se abriu, tal como o teatro Agrião" (que era a alcunha que Castilho tinha posto ao Teatro Nacional, por ser construído sobre estacas). "Inaugurou-se e não se inaugurou. Portanto, ficam todos intimados para comparecer, quando se abrir outra vez a valer, com o cenário armados nos seus lugares. A peça nova há-de ser mais bem escolhida: em vez de modesto almoço, haverá jantar, não direi pantagruélico, porém suficiente e mais abundante em líquidos correspondentes. O empresário espera e confia que os senhores do público lhe não faltem com a sua presença".

O sítio era para Garrett de eleição. Houve até quem falasse de premonição romântica pela proximidade do cemitério. Um dia, aliás, foi com Amorim visitar, de fronte de casa, o túmulo do grande romântico Fielding (o autor de Tom Jones, falecido em Lisboa a 8.10.1754) no Cemitério inglês… E quando o biógrafo começou a ler a inscrição da campa, Garrett interrompeu-o e disse que tudo era falso, a verdade era que Walter Scott o cognominara de "pai do romance inglês". E mais do que isso, fora o pai do romance moderno – apesar da ingratidão humana que deixara mulher e filhos na miséria. Tanto bastava. E deu meia volta: "Vamos ver as minhas obras e fique advertido de que vou ser vizinho deste ilustre defunto". E estava muito satisfeito. No entanto, a doença do peito de que Garrett padecia agravou-se. Mesmo assim, continuou a fumar. Arrastavam-se, porém, as obras de Santa Isabel ("O diacho é a casa", repetia). E os médicos insistiam na necessidade de rápida mudança. Podia haver perigo pelo eventual cheiro das tintas? O médico assistente, Dr. Barral, vai a Santa Isabel e diz que não… A mudança fez-se, mas o escritor, que preparara a casa com grande entusiasmo, sente agravada a sua saúde. Morrerá naquela casa, que agora é destruída. Ao ler estas memórias, completadas pela leitura de um outro texto fundamental da autoria de Ofélia M. C. Paiva Monteiro, A Formação de Almeida Garrett. Experiência e Criação, Coimbra, 1971, e pela biografia de José Calvet de Magalhães, Garrett. A Vida Ardente de Um Romântico, Lisboa, 1996, sentimos dó por este irreversível acto… E basta citar Gomes de Amorim: "A casa onde morreu Garrett, e a mobília que foi dele, podiam e deviam conservar-se como a nau ‘Vitória’, se nós, que macaqueamos tudo, imitássemos também os exemplos dignos de admiração e do respeito dos povos cultos" (III, p. 619). Eis como se ilustra o mais triste dos exercícios de passamento…
[Texto reproduzido com a devida vénia ao seu Autor]

Wednesday, January 25, 2006

Casa de músico (10)

E já que estamos a dois dias de comemorar os 250 anos do nascimento de Mozart....

Casa de músico (9)

Faltava nesta galeria pelo menos um compositor !

Museus virtuais

Casas de escritores (8)

Outra casa, outro âmbito (agradecendo a sugestão ao nosso leitor Rui Nobre).

"Vales lindíssimos, carvalheiras e soutos de castanheiros seculares, quedas de água, pomares, flores, tudo há naquele bendito monte. A quinta está situada num alto, num sítio soberbo - que abrange léguas de horizonte, e sempre interessante. (..) Logo adiante da casa, o monte desce até ao Douro, logo por trás da casa, o monte sobe até aos cimos onde há uma ermida." (Eça de Queirós)

Tuesday, January 24, 2006

Casas de escritores (7)

Située au cœur de l'ancien village de Passy, cette maison est la seule demeure parisienne de l'écrivain qui subsiste aujourd'hui. Balzac y vécut de 1840 à 1847 et y conçut La Comédie humaine. En ce lieu également il écrivit quelques-uns de ses plus beaux romans tels La Rabouilleuse, Splendeurs et misères des courtisanes ou encore La Cousine Bette et Le Cousin Pons.

Casas de escritores (6)

Eis uma casa associada a um projecto.

In the 1770s, when the young William lived in Wordsworth House it must have been a lively, bustling home. Imagine the noise, smells and clutter generated by a household of two parents, five children, four servants, and a variety of animals!
Today, the National Trust has recreated this environment, so that visitors to Wordsworth House get a sense of what the poet’s early years were really like. Visitors may encounter some of the Wordsworth’s servants going about their daily chores – washing, cooking, cleaning. There is even a chance to join in, if you don’t mind hard work!

Casas de escritores (5)

A Casa de José Régio de Vila do Conde foi adquirida pela Câmara Municipal e aberta ao público em 17 de Setembro de 1975.
Não se trata de um Museu organizado enquanto tal. É a casa que o poeta herdou de sua tia - A Madrinha Libânia - , e que preparou para viver quando se aposentou. É o local onde José Régio expôs algumas das muitas peças que foi recolhendo ao longo da sua vida.

Casa de artista (4)

Vale a pena ver a apresentação desta casa.

Casas de escritores (3)

Tuvieron que pasar cincuenta años del fusilamiento de Federico García Lorca para que se abriese al público, el 4 de junio de 1986, la casa donde Lorca nació, en el pueblo de la Vega de Granada llamado Fuente Vaqueros. Desde entonces, aquel espacio familiar se convirtió en un referente obligado para quienes desean conocer, no sólo el paisaje del creador irrepetible, sino sus manuscritos, la correspondencia con muchos de sus amigos, dibujos suyos y de sus contemporáneos, materiales valiosísimos para los ojos de aquellos que saben encontrar en los museos emoción y sabiduría.

Casas de escritores (2)

Casa Museu de Camilo

A casa chamada de Camilo foi construída por Pinheiro Alves, em 1830, quando regressou do Brasil, na posse de avultada fortuna.
A 17 de Março de 1915, um violento incêndio devorou completa e inexplicavelmente a moradia.
Formou-se uma Comissão de Homenagem ao Escritor que adquiriu em 17 de Abril de 1917, a Ana Rosa Correia e filhos, as ruínas e o quintal contíguo, bem como a livraria restante de Camilo, alguns autógrafos, correspondência de amigos e admiradores, mobiliário e objectos diversos.
Na reconstrução, a casa saíria muito adulterada, pois a instalação da escola primária da freguesia de Ceide no rés-do-chão e os requisitos técnicos a que para esse fim teve de obedecer, como a cubagem da sala de aula, alteraram-lhe certas características estruturais, em especial o pé direito e as janelas.
Concluídas as obras, a Comissão de Homenagem entregou à edilidade famalicense a casa reedificada, ficando esta responsável pelos encargos futuros das instituições ali fundadas: a Escola Primária e o Museu Camiliano.

Monday, January 23, 2006

Casas de escritores (1)

Situated on the Spanish Steps, the house is part of Roman folklore. For generations Piazza di Spagna has been visited by architects, painters, musicians and poets who all lodged here. Tobias Smollett, George Eliot, Goethe, Coleridge, Shelley, Byron, the Brownings, Henry James, Edith Wharton, Oscar Wilde and Joyce were just a few of the many who were attracted and inspired by the celebrated 'centro storico'.
The exterior of the House is exactly as it was when John Keats travelled to Rome and spent what were to be the last few months of his life in a vain attempt to stave off the inevitable effects of consumption. In addition to the extensive collection of paintings, objects and manuscripts celebrating the lives of Keats, Shelley and Byron, and our comprehensive library dedicated to the late British Romantic Poets, our collection includes a reliquary containing a lock of Milton and Elizabeth Barrett's hair, a manuscript and poem by Oscar Wilde, splendidly bound first editions and letters by Wordsworth, Robert Browning, Joseph Severn, Charles and Mary Cowden-Clarke.
Many thousands of people visit every year in tribute to Keats's genius, and that of Percy Bysshe Shelley, to whom the house is also dedicated.

Sunday, January 22, 2006


Acabou-se.

A casa de Garrett -- 9

"De toda a casa, amorosamente sonhada, pouco mais utilizará que o quarto de dormir, com a Primavera fingida do papel das paredes, de fundo verde e festões de rosas; a cama de estilo sebastianista, com cortinas de cassa branca; o estojo quase inútil de «toilette», aberto em cima dum contador; defronte do leito, pendente do muro, outra coisa agora mais útil: o crucifixo que foi de sua mãe, ornado com uma coroa de flores secas colhidas por ela."

O Romance de Garrett, de José Osório de Oliveira

A casa de Garrett -- 8

"Tudo ali está em ordem e quase ao gosto exigente e meticuloso de Garrett. Desde o jardim e a cocheira até à livraria e ao quarto de dormir, tudo está preparado para que o escritor viva tranquilo e possa trabalhar num ambiente favorável. Lá estão, distribuídos pelas quatro estantes da biblioteca, os seus livros: a primeira edição de Os Lusíadas, as Horas da Rainha D. Catarina, mais umas raridades, as melhores edições dos autores gregos, latinos, ingleses e alemães, os bons escritores franceses, italianos e espanhóis, vários cancioneiros, quase todos os poetas portugueses, os principais historiadores, alguns cronistas, além de canonistas e de tratadistas de direito e de ciências políticas. Lá estão nas gavetas das estantes, os seus papéis: manuscritos, cartas, tudo o que prende o escritor à vida, algumas vezes mais do que as próprias pessoas. Lá está, na sala, sobre um pequeno bufete, a caixa quadrilonga, guarnecida de espelhos, tendo pintadas no tampo, com as cores que lhe competem, as suas armas e a sua divisa. Nessa caixa guarda Garrett aquilo a que dá tanto valor: os diplomas, os títulos honoríficos, as condecorações e as cartas dos soberanos que lhas concederam."
O Romance de Garrett, de José Osório de Oliveira

Saturday, January 21, 2006

Contacto

Para contactar a Casa de Garrett use o endereço casadegarrett@hotmail.com

A Casa de Garrett no DN de hoje

O Diário de Notícias traz hoje, sábado, dia 21 de Janeiro, uma notícia sobre o projecto «Casa de Garrett». É importante esta divulgação, pois os meios de que dispomos são reduzidos.
Como diz a notícia, correctamente, este é um projecto à volta de um Autor, como já aqui foi escrito.
A eventual demolição da casa onde Garrett morreu apenas vem reforçar a nossa vontade de levar por diante o projecto. A «nossa» Casa de Garrett é, sempre foi, um projecto cultural e literário que tem como referência um Autor, nem sempre tão conhecido e lido como por vezes parece.
A eventual demolição da casa da antiga Rua de Santa Isabel é, claramente, uma perda patrimonial para Lisboa. A eventual demolição dessa casa, e a construção, no seu lugar, de um outro edifício, corresponde ao novo-riquismo urbanístico que tomou conta da cidade.
Não temos, infelizmente, a tradição de preservar a casa dos escritores e dos artistas, não as tornando necessariamente equipamentos culturais pretensiosos e megalómanos, que para pouco mais servem do que para consumir orçamentos, mas sim a natural preservação dos lugares por respeito a uma história, a uma cultura, a uma memória.
É sabido que esquecemos ou tratamos mal os nossos mortos. A cultura continua a estar mais fora do que dentro da nossa pele colectiva. E só nos lembramos de Santa Bárbara quando troveja. E, então, levanta-se um vendaval de ladainhas.
O que queremos e sempre quisemos, qualquer que viesse a ser o destino da casa real, é fazer um projecto cultural e literário chamado «casa de Garrett», em que uma das componentes seja a reprodução virtual da dita casa. Pelo caminho, no caso de o destino da casa ser o mais indesejável, fica, pelo menos, esse registo.
Por tudo isso as «dúvidas quanto ao seu propósito» só podem ser justificadas. E os propósitos, garantimos, são tenebrosos e ignóbeis...

A casa de Garrett -- 7

"Gonçalves e Gomes de Amorim tudo preparam cuidadosamente e com rapidez, para que Garrett se possa instalar na casa que é o seu sonho há quase um ano. Apesar dos seus pequenos rendimentos, pode dar-se ao luxo de montar uma casa confortável e com certos requintes de elegância. (...)
Qunado depois de tudo pronto, no fim de Outubro, se transfere da Junqueira para Santa Isabel, chega fatigado, sobre vagarosamente a escada pelo braço de Gomes de Amorim, pára na saleta para tomar alento, e entrando na livraria senta-se logo na cadeira abacial. Só depois de descansar é que passa revista à casa, arranjada pelos amigos com carinho e entusiasmo, no desejo de lhe dar uma alegria que ainda esperavam que não fosse a última."
O Romance de Garrett, de José Osório de Oliveira

A casa de Garrett

A casa de Garrett

Friday, January 20, 2006

O autor de O Romance de Garrett.


José Osório de Oliveira, nascido em Setúbal, em 1900, era filho da escritora Ana de Castro Osório e do poeta Paulino de Oliveira, e irmão de João de Castro Osório. Foi sobretudo um ensaísta e um incansável cultor das letras, intelectualmente respeitado por todos os sectores da sociedade. Teve acção exemplar na promoção do relacionamento literário e cultural entre Portugal e o Brasil, onde esteve várias vezes e onde fez amizade com diversos escritores da geração modernista. Foi secretário de redacção da excelente revista luso-brasileira Atlântico, na qual colaboraram grandes nomes das literaturas de ambos os países. Homem de múltiplos interesses, tanto se interessou por estudos luso-espanhóis, como pelas culturas angolana, moçambicana e cabo-verdiana. A sua obra, extensa e multifacetada, inclui O Romance de Garrett, publicado pela primeira vez em 1936. José Osório de Oliveira morreu em Lisboa, em 1964. A actriz Isabel de Castro, recentemente falecida, era sua filha. Da mesma família é o poeta António Osório, que publicou em 2005 um belíssimo livro sobre a relação entre a sua tia Ana de Castro Osório -- pioneira da literatura infantil em Portugal, que herdou de seu pai o gosto por Garrett -- e Camilo Pessanha.

O defunto ilustre do cemitério dos ingleses.

Henry Fielding foi chamado o «pai do romance inglês» por Walter Scott. Nascido em Sharphan Park, Glastonbury, em 1707, ficou sobretudo conhecido por The History of Tom Jones, a Foundling, a sua obra-prima, romance que provocou escândalo na época por descrever sem complacência os costumes do tempo. Trata-se da história de um enjeitado, corajoso, leal, libertino, por muito tempo joguete da fortuna. Fielding indigna-se com a hipocrisia e a vaidade, a que opõe a generosidade. Universalmente considerado um dos fundadores do romance moderno, veio a morrer em Lisboa em 1754, onde viera procurar alívio para a doença.

Thursday, January 19, 2006

A casa de Garrett -- 6

"Tudo merece, de longe, os seus cuidados, mas o que talvez mais o preocupe é a porta que mandou pôr na escada: de dois batentes, com óculos redondos, tem por cima, em metal doirado, as iniciais A. G., o timbre das suas armas: uma águia coroada, de asas abertas, e a sua divisa: 'Semper fixa.' Embora os outros estranhem essa divisa, Garrett sabe que tem o direito de a usar porque foi sempre o mesmo naquilo que é essencial num homem: o pensamento profundo. Uma coisa merece, também, a sua especial atenção: o papel do quarto, que quer 'alegre e florido', no gosto, que não perde, pelos aspectos amáveis da existência."

O Romance de Garrett, de José Osório de Oliveira

A casa de Garrett -- 5

"Indica-lhe Gomes de Amorim quem poderá tratar de tudo com jeito e dedicação: um homem inteligente, que não escreve mas faz parte da roda literária. Esse homem, Manuel José Gonçalves, passa a ser para Garrett uma criatura valiosíssima. A ele entrega o 'gravíssimo negócio' do arranjo da casa, explicando tudo pormenorizadamente e voltando às coisas mais insignificantes. Parece querer instalar-se, enfim, de maneira definitiva, como quem se prepara para uma longa velhice."

O Romance de Garrett, de José Osório de Oliveira

Casa de Garrett -- 4

"Triste, da tristeza de quem vê a morte rondando, lamenta-se ao amigo dedicado [Gomes de Amorim]:
-- Quem me há-de valer agora àquelas obras de Santa Isabel? O doutor quer que eu vá para Lisboa; e se isto tem de me ser fatal, desejo morrer na minha casa nova. "
O Romance de Garrett, de José Osório de Oliveira

A casa de Garrett -- 3

"Os operários andam a estucar os tectos, a pintar as portas, a forrar as paredes, enquanto o seu ‘amigo e vizinho marceneiro’ restaura os móveis antigos, que são uma das suas paixões antes de se tornarem, em Portugal, uma moda ditada por D. Fernando. Apesar de Garrett vir da Junqueira inspeccioná-las, as obras da casa marcham lentamente, longe de quem as fiscalize a toda a hora. E o escritor impacienta-se como quem receia que o tempo não chegue para ver tudo pronto."
O Romance de Garrett, de José Osório de Oliveira

A casa de Garrett -- 2

"Nenhuma outra casa, de tantas que tem habitado, lhe mereceu os cuidados que dá à residência de Santa Isabel, fronteira ao cemitério dos ingleses. Ao escolhê-la não se importou com o local, porque não tem, dos românticos, a imaginação fúnebre. Gracejou, até, com o facto de ir ser vizinho dum ‘ilustre defunto’: Fielding."
O Romance de Garrett, de José Osório de Oliveira

Wednesday, January 18, 2006

A casa de Garrett -- 1

"Tendo resolvido mudar de casa mais uma vez, Garrett escreve a Maria Adelaide: ‘Saberás que já tenho a casa nova de Santa Isabel. E quando a arranjar, cuidarei também do teu quartinho, que será o melhor da casa, e próprio para uma senhora como tu hás-de sair daí.’ Para estar mais perto da filha e poder visitá-la todos os dias, mete os móveis na casa de Santa Isabel, ainda em acabamento, e instala-se na Junqueira, antecipando o veraneio costumado."

em O Romance de Garrett de José Osório de Oliveira.

Tuesday, January 17, 2006

As casas têm alma

Uma casa é mais do que o mero invólucro opaco e protector da intimidade, dentro do qual uma vida se desenrola. É uma extensão do corpo.

Com o tempo a casa molda-se, ganha hábitos, escolhe e acolhe os que a amam, ao mesmo tempo que define distâncias e se torna fria a olhos indesejáveis.

As casas deixam-se impregnar pelo tempo, que é parte da sua alma.

As casas marcam quem nelas habita. Do mesmo modo, os moradores podem influenciar decisivamente as suas casas. Basta que ambos sejam dotados de espírito e aprendam a ser cúmplices.

Habitar uma casa é uma secreta e íntima relação de reciprocidade. Os mais atentos às pequenas coisas têm por vezes a sensação de que ela é visível.

Mas nem todas as casas possuem uma alma. Nem todos os moradores compreendem o espírito das casas. Vivem nelas, mas não as habitam. Podem ambos permanecer durante anos no desconforto e na estranheza.

A casa de um escritor, a casa escolhida por um escritor, deliberadamente escolhida, faz decerto parte da sua obra. E, como um retrato, espelha a sua vida, para si e para os outros.

As últimas palavras que Garrett terá dito a Gomes de Amorim antes de morrer, agarrado à sua mão, foram «Já não o vejo.» Agarrados à recordação da casa onde essa cena se desenrolou, na Rua Saraiva de Carvalho (antiga rua de Santa Isabel), bem podemos nós dizer também que já não a vemos.

Conseguiremos nós restituir a casa a Garrett? Esse continua a ser o desafio deste projecto. Agradecemos, desde já, publicamente, a todas as pessoas que nos contactaram, declarando a sua vontade de colaboração. Esperamos poder em breve dar mais notícias.

Os exemplos (notícia da Lusa)


A Casa Museu Vitorino Nemésio, na cidade da Praia da Vitória, deverá abrir no próximo ano, anunciou hoje o presidente da Câmara Municipal. Roberto Monteiro quer centrar actividade cultural do concelho no escritor.
"A sua obra não pode ficar esquecida e temos de reconhecer que muito pouco tem sido feito para a divulgar, nomeadamente junto dos estabelecimentos de ensino", disse o autarca na cerimónia de doação do violão do autor de "Mau Tempo no Canal" e do programa televisivo "Se Bem Me Lembro", oferecido pelo filho, Manuel Nemésio. O seu berço, em madeira de nogueira e de fabrico americano, os seus livros, uma secretária, fotografias e outros elementos que compuseram o dia-a-dia daquele que é considerado um dos melhores escritores açorianos farão parte da futura casa museu.O novo espaço vai contar também com uma sala multimédia, onde serão divulgados os seus programas de televisão, as suas crónicas radiofónicas transmitidas localmente, bem como muitos dos seus artigos impressos nos jornais locais.O filho, Manuel Nemésio, comprometeu-se a doar outros elementos que foram propriedade de Vitorino Nemésio "logo que exista a certeza de que a casa museu entra em funcionamento".Manuel Nemésio pediu a recuperação da "Casa das Tias", uma residência onde Nemésio foi criado e que, segundo disse, "tem a frontaria num estado deplorável".Roberto Monteiro respondeu, que no próximo ano, "vão iniciar-se as obras de recuperação da casa de dois andares, para transformar o rés-do-chão num espaço cultural e o primeiro piso para o funcionamento da Assembleia Municipal".

Saturday, January 14, 2006

Garrett fora de casa

A «Casa de Garrett» sabe que uma das partes desta obra musical, da qual reproduzimos o anúncio da primeira audição, é constituída por um texto de Garrett.

"Requiem à Memória de Passos Manuel" de Eurico Carrapatoso
Produção: Fundação Passos Canavarro - Arte, Ciência e Democracia

19 de Janeiro de 2006 às 21h Pequeno Auditório do Centro Cultural de Belém
Duração:1 hora (sem intervalo)

A Fundação Passos Canavarro – Arte, Ciência e Democracia está a celebrar o Bicentenário do Nascimento de Manuel da Silva Passos – Passos Manuel (1805 - 1862), cuja efeméride levou à encomenda de um Requiem à sua memória, ao compositor Eurico Carrapatoso. A concretização desta partitura só foi possível graças ao mecenato de Luís Filipe Caldas Nobre da Veiga, homenageando a Senhora D. Maria de Lourdes Holbeche Trigoso que soube marcar e transmitir o gosto pela música - como professora de piano - a várias gerações na cidade de Santarém.

A primeira audição mundial terá lugar na Igreja Nossa Senhora da Graça, em Santarém, no dia 18 de Janeiro de 2006. No dia 19, será executado no Centro Cultural de Belém (no Pequeno Auditório), em Lisboa; e no dia 21, na Casa da Musica, no Porto.
Os três concertos serão interpretados pela Orquestra Nacional do Porto, sob a direcção do Maestro João Paulo Santos, e pelo Coral Lisboa Cantat, dirigido pelo Maestro Jorge Alves, e tendo como solista Jorge Vaz de Carvalho.
Elenco: Orquestra Nacional do Porto, Coral Lisboa Cantat Maestro do Coral: Jorge Carvalho Alves / Clara Coelho
Solista: Jorge Vaz de Carvalho
Direcção de João Paulo Santos

Visitas da Casa de Garrett

O mistério da casa de Garrett
Carlos Medina-Ribeiro

Quando comecei a ler as histórias de Sherlock Holmes, interroguei-me acerca da existência, ou não, da tal Baker Street, a rua onde o herói residia. Quando vim a saber que sim, a minha curiosidade passou a ser mais detalhada: então e o nº 221-B? Como seria?
Mas afinal não havia qualquer mistério, pois no tempo de Conan Doyle a rua acabava muito antes e o problema não se punha. Só que, com o decorrer dos anos, não só passou a existir esse Nº 221, como muitos outros prédios se lhe seguiram.
Foi, pois, com um misto de curiosidade e emoção que, da última vez que fui a Londres, me dirigi a essa zona. E qual não foi a minha surpresa quando vi que tudo em volta estava feito para tirar partido do mito - nomeadamente o comércio de recordações, como é típico dos ingleses, que sabem dar valor ao que têm.
Mas a surpresa maior ainda estava para vir:
Pouco adiante do verdadeiro 221, tinha sido «feita» a casa de Sherlock Holmes! Exactamente! Uma verdadeira casa vitoriana fora convertida em casa-museu, com tudo (mas absolutamente tudo) o que se possa imaginar, desde uma senhora vestida de Sra. Hudson (a governanta do detective, que me recebeu!) até aos inúmeros objectos referidos na obra - incluindo o inevitável violino!
Na altura, ainda em Portugal não estávamos a viver a incrível rábula da Casa de Garrett, «100% simétrica» desta; de contrário, o fenómeno seria um bom mistério para colocar ao famoso detective.
Mas também convém ter algum realismo: movendo-se Sherlock Holmes sempre no mundo da lógica, será que algum dia conseguiria resolver esse estapafúrdio problema tão português?

Publicado no jornal "metro" em 9 Janeiro 2006 (com os cortes indicados em itálico). Uma versão mais completa foi publicada ontem, dia 13, no PÚBLICO/Local.
Texto amavelmente disponibilizado por Carlos Medina Ribeiro, a quem agradecemos.
Outros textos do autor podem ser encontrados aqui: www.janelanaweb.com/humormedina/cartas99.html.

Friday, January 13, 2006

Exemplo de uma reconstrução virtual.

Ora vejam lá se não poderíamos fazer alguma coisa, à nossa escala, se não deste modo, pelo menos com este espírito: www.virtualvaudeville.com

Link garrettiano fundamental

Um projecto à volta de um Autor.

O projecto «Casa de Garrett» é um projecto à volta de um Autor. É essa a nossa «causa», e não qualquer outra.

A polémica pode ser extremamente salutar, e até divertida. Temos excelentes exemplos portugueses. Mas entre nós, como notou uma dia Vitorino Nemésio, tem frequentemente a capacidade de despertar, ou pôr a nu, uma escondida «vocação de energúmeno». Não é, pois, a polémica que procuramos.

O nosso desafio prende-se com a capacidade de cidadãos livres poderem cooperar entre si para construir uma alternativa ao que os poderes públicos não podem ou não querem fazer. Nem sequer está no nosso horizonte discutir se esses poderes teriam ou não a estrita obrigação de o fazer. Essa é outra discussão.

É possível edificar um projecto a partir de uma ideia? Nós procuramos juntar vontades e competências, mostrar afinal que a tão invocada «sociedade civil» existe. E poder um dia apresentar o resultado desse trabalho livremente assumido pelos cidadãos como contributo à sociedade a que pertencem, trabalho de cidadania portanto, aos ditos poderes públicos, e dizer-lhes: «meus senhores, aqui está, cuidem bem disto, que é agora um bem colectivo, do qual podem aproveitar os cidadãos em geral, os estudantes, os estudiosos, enfim, os que se interessarem pela cultura portuguesa.»

Mas seria, não esqueçamos o essencial, um enorme serviço a Garrett, figura literária e pública que os subscritores deste blog estimam, e cuja memória supõem merecer o esforço de acrescentar algo de novo ao que já existe.

Sunday, January 08, 2006

Manifesto «Por uma Casa de Garrett»


Talvez haja quem tenha descoberto a casa da Rua Saraiva de Carvalho, em Lisboa, onde Garrett morou no final da vida, quando se começou a falar da sua provável demolição. Talvez haja mesmo quem tenha, desse modo e nesse momento, descoberto a casa antes de descobrir o próprio Garrett. E haverá também quem clame, com ardores no peito, contra a demolição, embora se guarde de voltar a ler, admitindo que alguma vez leu, a poesia, o teatro, os romances, ou mesmo os discursos de Garrett. Para esses, o campo de acção é, por excelência, o abaixo-assinado e o protesto.

A conservação de locais de referência da geografia pessoal de um escritor, artista, ou outra personalidade, não faz parte da nossa tradição, mais disponível para o silêncio e o esquecimento. E não faz parte da nossa tradição porque é inexistente, ou difícil, a nossa relação com os Autores e sobretudo com a Cultura que eles representam.

Tão longe que estamos ainda da Europa da cultura! Não porque não saibamos o que lá se faz e o que por lá se passa. Estamos longe porque não vivemos a cultura do mesmo modo, de uma forma interiorizada, na qual certos actos aparecem de uma forma simultaneamente imperativa e natural. Não que por essa Europa tudo esteja bem, ou seja igualmente bom. A questão não é essa. A questão é estarmos num patamar diferente.

Não basta rasgar as vestes de indignação. Aliás, depois das vestes rasgadas, a nudez deixa ver a falta de ideias, e sobretudo a falta de iniciativa dos cidadãos. Por exemplo: Cesário Verde não merecia que existisse, em Lisboa, um lugar de sua evocação? Pois bem, a casa onde o Poeta morreu existe. Alguém se lembrou? Alguém vela pela sua manutenção? Alguém sabe ao certo? Alguém rasgou as vestes para que ali se fizesse alguma coisa?

Há mais de um ano que Cristina Futscher Pereira, auxiliada por um pequeno núcleo de pessoas, unido por comum garrettismo e motivado pelo achado dos manuscritos de uma parte inédita do Romanceiro de Garrett, fez surgir um blog (http://www.odivino.blogs.sapo.pt/) dedicado a Garrett.

Essa página fez o seu caminho próprio, juntando textos e iconografia garrettiana. A certa altura, quando se começou a gerar polémica sobre a casa de Garrett, surgiu a ideia de ampliar a existência do blog, construindo uma Casa de Garrett virtual, dedicada ao escritor.

Essa Casa seria, desde logo, uma reconstrução virtual, a três dimensões, da casa da Rua Saraiva de Carvalho, que assim ficaria preservada para memória futura. A tecnologia que existe hoje permite fazê-lo e há diversos exemplos disso. Na casa seria possível reunir obras de Garrett, disponibilizadas on line, textos, ensaios, iconografia, bibliografia, links. Seria uma casa em que se poderia entrar, e visitar, a partir da nossa própria. Abrir-se-ia a partir das escolas, das bibliotecas, das universidades. Iria ser, pensámos nós, uma grande Casa.

As primeiras tentativas de interessar pessoas e de obter patrocínios revelaram-se frustrantes. Garrett? Bah, quem é que se interessa por isso?

Depois de um período em que circunstâncias de natureza trágica não permitiram prosseguir a ideia, é essa pergunta que lançamos a quem este «manifesto» chegar.

Ainda é possível reconstruir virtualmente a Casa de Garrett e transformá-la num organismo cultural vivo. Precisamos de gente que esteja disposta a colaborar graciosamente neste projecto.

Mereceremos nós uma personagem como Garrett? É esta a interpelação que fazemos aos cidadãos que nos lerem. Seremos nós capazes de estar à altura das circunstâncias?

Precisamos de gente e de competências: designers, webdesigners, fotógrafos, engenheiros, arquitectos e estudantes de arquitectura, professores, escritores, pessoas de boa vontade... Conseguiremos reunir pessoas e conjugar esforços para apresentar obra?

O Estado pode bem ter as suas razões para descartar certos investimentos e certas responsabilidades. Mas que razões apresentaremos nós para fazer o mesmo?
Vera Futscher Pereira
Jorge Colaço
Fale connosco já: casadegarrett@hotmail.com